O Diário de Simmons

Meu nome é Paul Simmons, até a presente data tenho 29 anos completos. Em vista de minhas futuras descobertas e expedições, fui aconselhado a escrever em um diário, para pesquisas e lembranças posteriores. Assim sendo, inicio este contando minha vida até o presente.

2.10.2006

13 de Março de 1920

Hoje, novamente fui até a fazenda do Sr. Ford, mas o que lá ouvi foi muito estranho e me despertou interesse ao mesmo tempo em que incredulidade. Após um despertar tranqüilo, estranhamente fiquei com leves dores de cabeça, o que não me impediu de subir o pequeno e agradável morro onde tentaria conversar com Henry. Minha caminhada até a casa fora quase idêntica a outra, pois ainda muito me deliciava com aquela linda paisagem decorada com poucas árvores e pelo belo gramado rasteiro, até o grasnar dos corvos permanecia o mesmo, porém desta vez estava mais atencioso em relação a eles. Ao me aproximar da casa vi que a porta estava entreaberta e que uma figura feminina estava do lado de fora; uma moça jovem com sua idade aproximada entre os 22 anos, com sua pele lisa e clara, pouco mais baixa que eu, seus cabelos curtos caídos por sobre os ombros eram pouco mais claros que as sementes de avelã assim como seus pequenos olhos – que quase não os via devido à distância – e usava ainda um vestido longo que dava contorno a sua forma, realçando seu rosto que continham traços finos e bem delineados. A jovem, ao me ver perguntou quem eu era e o que desejava, o que prontamente fiz até que ela se apresentou como Eduarda Ford, a filha do proprietário da fazenda. Ao me convidar para entrar e conhecer seu pai, este já estava em frente à porta nos observando, notei uma expressão lúgubre em seus olhos, mas sua fala macia e cabelos grisalhos me levaram a crer que não seria desfavorável aos meus pedidos – o que mais tarde ficou provado que eu estava certo. Durante nossa conversa Henry me relatou uma história que me tomou toda atenção pela forma como foi contada e por toda fantasia. Tentarei transcrever com a máxima fidelidade os relatos do Sr. Henry. “Em meus tempos de marinheiro, fiz uma viagem a terras distantes e inominadas, para buscar um inglês, que fazia estudos sobre rituais e crenças dos selvagens e sábios que lá habitavam e do qual nunca se ouvira falar. E agora tal homem estava engajado em voltar para sua terra natal em busca de arquivar seus relatos. O estranho levou consigo um caixote de madeira que segundo ele, estava carregado vários pertences obscuros e exóticos dentre eles um líquido vigoroso que poderia trazer aos sentidos percepções sobre outras dimensões e até mesmo do além da vida, ao qual a receita havia aprendido em livros antigos e inomináveis, e um livro estranho. E mais, desde que o estranho pousou os pés na embarcação, os mares nunca foram os mesmos, não era nada comum, dizia que para um aventureiro de sua idade, nunca antes passara por experiência mais terrível que aquela. Turbilhões aquáticos passavam pelo convés e ameaçavam levar o navio a pique, enquanto o horizonte mostrava-se negro como a noite, mas não era uma tempestade comum, relâmpagos corriam pelos céus ecoando estrondosamente enquanto suas rajadas deixavam um rastro avermelhado, como se o sangue de antigos Deuses corressem por aquele negrume celestial, por momentos incontáveis tormentas beiravam o navio de forma que este se inclinava consideravelmente apontando sua proa para o abismo que se abria entre os mares a sua frente revelando o horror de incontáveis males perdidos por eras antes do homem”. Fiquei levemente aturdido diante a sinistra narração, mas desconfiado acerca de tais comentários, indaguei sobre o estranho homem, mas Henry nada falou, apenas dizendo que meus homens poderiam trabalhar da forma que me aprouver contanto que não perturbassem a casa e a extremidade ao sul.

1.27.2006

12 de Março de 1920

Para minha felicidade e completo prazer ontem à tarde recebi a resposta da Universidade Miskatonic. No oficio de autorização que me fora enviado pelo diretor de pesquisa e finanças, John Harris, um homem alto e imponente com seus 45 anos. Tive a oportunidade de lhe falar sobre minhas intenções em relação às pesquisas de solo rochoso e minerais diversos, e por vários dias nos encontramos em sua sala para discutirmos todo o custo que inicialmente minha expedição teria. John foi professor de administração de meu grande amigo Jimmi, mais comumente conhecido pelo campus universitário como prof. Blackmore. E foram as ótimas recomendações que Jimmi fizera à minha pessoa, que John, após uma apresentação sobre minha teoria da existência de um minério diferente sob o rochoso solo do Arkham, concluiu ser favorável a uma expedição chefiada por mim. Em posse de tal documento, procurei me informar sobre o fazendeiro que possuía o terreno que era de meu interesse. Infelizmente os trabalhadores encarregados das escavações, não conheciam muito bem aquele senhor, apenas sabiam que era meio taciturno, sendo poucas vezes visto pelos arredores ou na cidade. Dizia-se que vivia quase que inteiramente recluso não fosse pela companhia da única filha, que vez ou outra era vista ajudando o pai nas tarefas diárias de cuidado da casa, plantação e animais; outras vezes sua presença podia ser notada nos armazéns da cidade. O nome do proprietário é Henry Ford, e sua filha chama-se Eduarda. Hoje mesmo fui até sua casa para que pudesse apresentar minha proposta para tal fazendeiro. A casa fica cerca de 50 metros após uma soleira construída em boa madeira, mas nada que ostente luxo, pois fora apenas pregada e amarrada com corda simples, e como não havia nenhum tipo de portão que trancasse a soleira, adentrei no terreno de Ford. Comecei a reparar na bela paisagem que me era proporcionada, pois a casa ficava levemente acima de um morro, o que me levava a passar por entre um campo verde com suas poucas árvores de galhos tortos, que de certa forma são belos, principalmente quando o vento sopra em suas folhas que balançavam levemente. Creio não ter alcançado metade da distância da porta quando ouvi um som estridente que vinha de cima dos galhos das árvores, um barulho horrível, mas reconhecido, o grasnar de corvos. Ainda não entendo o que tais criaturas faziam naquele lugar nada propicio a sua espécie. Após estar diante a porta, bati levemente, mas meus toques foram em vão, alguns instantes depois os apliquei novamente e foram igualmente inúteis. Tentei então chamar os donos da casa pelo nome, mas nenhuma de minhas tentativas obtiveram sucesso. Passados uns minutos sem que ninguém aparecesse, resolvi descer e tentar novamente amanhã.

1.19.2006

08 de Março de 1920

Hoje após algum tempo, volto a escrever neste diário, a verdade é que a pouca sorte de uma escavação longa e infrutífera aliado a minha falta de hábito em escrever diariamente, fez com que esquecesse deste. Mas minha cabeça está com outros problemas, pois não obtive muito sucesso com as escavações durante esses quase dois meses, mesmo que o trabalho tenha sido deveras árduo, o que me deixa preocupado, pois o fundo monetário da Universidade Miskatonic, que financia meus estudos e pesquisas, necessita de algum resultado seja ele teórico ou não. Em virtude desses problemas que enevoam o futuro da expedição, resolvi adiantar minhas pesquisas sobre uma rede de antigos túneis naturais que continham diversas espécies rochosas complexas. Mas um terremoto cerca de 30 anos atrás soterrou toda essa maravilha, o que dificultava o acesso as galerias e por não se tratar de um lugar importante, nunca fora mapeado devidamente, então eu teria que procurar a localização em antigas escrituras e mapas não muito confiáveis. Em minha longa jornada pelo solo aos arredores de Arkham, não havia encontrado nada que me desse uma resposta apresentável ao conselho que julgaria as qualidades de minhas expedições, logo não teria muito a perder, explorando estes antigos túneis. Mesmo estando muito cansado pelo trabalho que fora realizado durante as noites anteriores, em que debruçava em meus estudos sobre a geologia da região a fim de localizar o ponto mais ao centro da cadeia de túneis, não pude deixar de perceber que se todo meu esforço estivesse fluindo corretamente, havia uma pequena rede que convergia por entre uma fazenda próxima de onde estávamos, o que me trouxe a idéia de tentar persuadir seu proprietário, pois seria incrivelmente mais rápido e lucrativo levar os trabalhadores a pouca distância e mantê-los, mesmo pagando uma leve indenização ao produtor. Resolvi pedir autorização do fazendeiro, assim que terminar meu manuscrito de hoje, irei redigir um oficio para a Universidade comunicando minhas intenções.

1.12.2006

12 de Janeiro de 1920

Nasci em Arkham uma cidade próxima de Boston, na Nova Inglaterra, no ano de 1891, onde também passei a maior parte de minha vida (na verdade passei apenas quatro anos fora, em viagens de exploração científica). Minha vida sempre fora muito boa, porem nunca fácil, mas não reclamo das oportunidades que me foram concebidas, e nem das perdidas. Meu pai homem bondoso, mas de coração muito fraco havia-me ensinado todas as glórias e honras que um homem poderia ter e conquistar, o que o tornava um sonhador sem ambições de enriquecer. Como era doce o olhar daquele senhor, toda vez que sentado em sua cadeira de balanço - que ficava perto da lareira, para aquecê-lo nos gélidos dias de inverno em Arkham – contava histórias de sua infância quando trabalhava escravamente para se sustentar, uma vez que havia perdido seus pais na Guerra da Criméia. Minha mãe eu nunca conhecera, pois falecera quando estava em trabalho de parto, no meu nascimento. Pelo que meu pai contava, deve ter sido uma boa pessoa, apesar de muito dura com a família, nunca aceitando a vida que levara. Minha juventude foi passada em companhia de um pai já doente e sem pouco tempo de vida, o que me levou a trabalhar para lhe proporcionar um mínimo de conforto enquanto esperava a morte – esta que não tardou a chegar, o levando pouco antes de completar meu décimo sexto ano. Não tive irmãos ou outros parentes, pois minha família provinha toda do leste russo, tive que continuar minha vida apenas com as lembranças de meu pai, o que me deu forças para continuar meus estudos em arqueologia e paleontologia. Fiz amigos na faculdade Miskatonic, onde estudava, mas poucos mantiveram contato após o término dos cursos. Meu maior amigo foi justamente um professor que devido a sua pouca idade (na época em que lecionava para mim, contava com 25 anos apenas) se tornou uma boa companhia, seu nome é Blackmore. Nunca me casei, apesar das insistências do Prof. Blackmore, pois segundo ele “um homem precisa da companhia feminina”. Mas não achei uma pessoa para compartilhar toda uma vida. Atualmente faço escavações em sítios arqueológicos nos arredores de Arkham, tudo financiado pela Miskatonic. Bem minha história é basicamente essa, o que escreverei a seguir tem haver com minha personalidade e idéias. Para começar tenho cerca de 1,80m de altura, peso aproximadamente 75kg. Como sou descendente russo tenho os cabelos e olhos negros, pele branca. Não tenho nenhum tipo de deficiência visual ou fonoaudióloga, apenas uma leve surdez no ouvido esquerdo, mas nada que comprometa minha audição, isso foi defeito de nascença. Não sou do tipo atlético, embora não faça feio em esportes que necessitem de esforço físico. Quando estou concentrado, poucas coisas conseguem minha atenção, enquanto estiver absorto. Às vezes isso se torna minha maior qualidade, como algumas vezes meu maior defeito. Não sou muito de reclamar da vida, ou das pessoas, mas uma coisa que me aborrece muito são pessoas convencidas! Em minhas expedições e estudos, encontrei um grande número de pessoas e livros que citavam antigas lendas de Deuses Ancestrais, monstros e fantasmas. Acho muito interessante o estudo de tais áreas, mas nunca me aprofundei em nenhuma, pois não dou muito crédito. As únicas histórias e lendas que me chamam atenção fora do comum, falam sobre antigas civilizações e construções que submergiram no mar e/ou foram engolidas pela terra. Ultimamente minha maior companhia tem sido um gato albino que me fora dado pelo Prof. Blackmore. Disse-me ele, que os gatos são a ponte entre o nosso e um mundo onírico. Outra lenda desacreditada por mim, mas como me foi dado por amizade tomei-o pelo nome de Macário. Bem, eis minha vida até o presente momento.